Neste blog pretendo divulgar e discutir assuntos de meu ineteresse: escalada em rocha e em gelo, montanhismo, ecologia, livros ... além de assuntos com os quais trabalho profisisonalmente: método dos elementos finitos, méto dos elementos discretos, análise numérica e lógica fuzzy. Aqui você também pode encontrar textos e material de minhas aulas, alguma coisa sobre o melhor carro do mundo (Toyota Bandeirante) e citações. Ah!, e sobre música e o instrumento que toco (ou tento tocar): viola caipira.

Ou seja, tudo que eu gosto e faço Na ponta dos dedos.

Por que Projeto Peregrinus: em 2001 eu e mais cinco amigos escrevemos um projeto de patrocínio com esse nome, cujo objetivo era subir as mais altas montanhas de cada país sulamericano. O projeto não saiu do papel, mas a escolha do nome, bastante apropriada, foi feita por mim, após abrir aleatoriamente um dicionário Latim-Português. Essa foi a primeira palavra que li: peregrinus: aquele que viaja para outro país. A coincidência foi tão grande que me marcou muito. Como também pretendo falar de minhas viagens resolvi manter esse nome.

domingo, 17 de agosto de 2014

Meu primeiro cume nos Apes e algumas lições aprendidas

Sábado, 16 de agosto, fui convidado pelo Frederic, meu supervisor de pos-doc, a almoçar em sua casa com sua esposa e seus três filhos. Ele mora em Le Sappey-en-Chartreuse, uma pequena vila em Chartreuse, uma das cadeias de montanha ao redor de Grenoble. Ele fez malgret de cannard na brasa e sau esposa fez um molho, que vou tentar repetir, com laranja, mel e vinagre balsâmico. Acompanhado de batata salté, salada verde e salada de beterraba. Como eles fizeram questão de dizer, as batatas eram cultivadas no jardim. Estava muito bom. Eles gostam de carne mais mal passa que nós, brasileiros, pois a minha estava no ponto mas o Frederic disse que não, que tinha cozinhado de mais e provavelmente estava seca. Não estava.

A casa é uma típica casa de montanha: toda de madeira, tem um hall de entrada onde ficam guardados os sapatos. Uma porta lateral leva ao depósito, contei cerca de uma dúzia de esquis, de diversas modalidades (alpino, nórdico, de fond etc), botas de esqui e de caminhada, capacetes, bastões, cordas, roupa de neoprene (para canyoning)... parecia uma pequena mas desorganizada loja de material esportivo.

Depois do almoço e do vinho ele me perguntou: "e agora, o que você quer fazer, quer tirar uma sesta ou ir pra montanha?"

Eu quase ri.

Coloquei minha joelheira e com minha mochila de laptop com água e agasalho pegamos a trilha para o Chamechaude às 15h. Ela começa por dentro de uma bela floresta e, em seguida, numa parte mais descampada. Ventava muito. Como não faço atividade física há três meses, desde a torção do joelho, fiquei bastante cansado, naquele ponto de sentir uma leve vertigem de vez em quando. Comentei que ele estava me plena forma, aí ele bateu na barriga e disse "não, boa comida e muito vinho". Mas dava pra perceber que ele estava segurando o ritmo. Esses caras moram num lugar onde podem subir uma montanha maravilhosa depois do almoço, só por diversão. E eles fazem isso, pois cruzamos com vários moradores da vila ao longo da caminhada. Pra imaginar como é o lugar pensem em Salinas, mas da vila até o cume sao 1000m e as paredes de rocha não são tão grandes.


Cheguei a pensar em aceitar a proposta dele, de tomarmos uma bifurcação a outra trilha, mais leve. O joelho, o tempo todo, reclamava. Nada disso, pensei. Afinal, sou brasileiro e não desisto nunca. Na verdade, até hoje nunca me arrependo de ter seguido para um cume, mas me questionei todas as vezes que desisti.

Chegamos na base da falésia de calcário, linda. A subida é um terceirinho fácil com cabo de aço, tanto que só usamos capacete por causa da possível queda de rochas. Mesmo assim forcei mas o joelho, que reclamou mais ainda.

Depois da escaladinha tivemos mais 150m de desnível até o cume.


Meu primeiro cume nos Alpes. Lá em cima pensei "se for embora amanhã vou satisfeito".  Alguns minutos depois, no início da descida, mudei de ideia: "tá maluco? Você tem ainda muito tempo aqui e muita montanha pra subir".

Se o joelho deixar...

Lá em cima ele me mostrou a vertente na qual, no inverno, eles descem de esqui. São malucos, pois é muito inclinado. Eles fazem isso como a gente vai pra paia no Rio.

Na descida uma ovelha me seguiu por um tempo, gritando (ovelha grita?) béééé. Foi engraçado.

Torci o pé direito, nada grave, senti dor na coxa direita e um princípio de câimbra na panturrilha esquerda, acho que causada pela joelheira, já que ela aperta os músculos ao redor do joelho. Usei uns bastões que ele me emprestou.

Chegamos pontualmente as 19h30 na casa dele. Meus músculos das pernas estava tensos, mas a alma bem leve.

Ainda fizemos um lanche e depois ele me levou pra Grenoble.

Hoje, domingo, tirei o dia pra descansar. Preciso ir com calma, apenas da ansiedade em fazer tudo o mais rápido possível. Percebi que, além de estar fora de forma, o joelho não está colaborando. Posso entrar em forma relativamente rápido, mas o joelho me preocupa. A joelheira dá muita segurança, mas ela mesma incomoda bastante, ao ponto de esfolar a pele. Tenho que resolver isso.


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